Por que a Metodologia Agile não funciona muito bem na gestão de projetos da construção?

A Metodologia Agile tem sido cada vez mais falada entre os meios relacionados a gestão de projetos. Porém tudo muda quando se trata da construção civil. Será que este método é adequado para este ambiente?

Agile (em português, Ágil) é uma abordagem iterativa para gestão de projetos e desenvolvimento de software que ajuda equipas a entregar valor aos clientes com mais rapidez, entregando o trabalho em pequenos, mas consumíveis incrementos, em vez de entregar tudo de uma vez perto do fim. Ao contrário disto, o tradicional Predictive (em português, Preditivo), ou gestão de projetos em cascata (conhecido em inglês por waterfall), é o método em que o escopo de trabalho e os requisitos para o projeto são claros e justificam o planeamento antecipado detalhado, com um projeto final definido, onde a equipa entrega tudo no fim.

Até onde sabemos, a construção não é um ambiente em constante mudança. Quando estás a construir uma casa, não vais fazer a tubagem da rede de águas e esgotos e testá-la e, em seguida, fazê-la novamente várias vezes. Você deve instalá-la uma vez, assim como o sistema elétrico, entre outros. Você não fica atualizando sucessivamente as tubagens ou os cabos, e sim fazer isso de uma só vez. A propósito, as mudanças custam muito na construção, e por esta razão, temos o Change Control Process (em português, Processo de Controle de Mudanças) para geri-lo. Assim, ao construir uma casa, você sabe qual é o produto final e todas as tarefas que precisam ser realizadas no meio.

Em outras palavras, um ambiente Predictive, você geralmente executa o trabalho uma vez, até mesmo testando o trabalho. Você não repete o trabalho uma e outra vez até acertar. Por outro lado, o Agile trabalha em uma mudança contínua de ambiente de trabalho, em que a cada 2 a 4 semanas você tem um novo pequeno projeto, que é conhecido como Sprints. Dessa forma, o Agile será continuamente reparado, enquanto o Predictive será um projeto bem compreendido.

Tive minha própria experiência a tentar uma metodologia totalmente Agile em um projeto de construção em uma empresa em que trabalhei há anos atrás. Testamos por um tempo este modelo, fizemos reuniões diárias do tipo stand-up (conhecidas em inglês por stand-up meetings) e adivinhem só? Não funcionou muito bem, por se tratar de um ambiente completamente diferente para o qual o Agile não é adequado. Nesta experiência, as reuniões diárias não faziam nenhum sentido porque não tínhamos mudanças no estaleiro de obras todos os dias e o planeamento, o cronograma, já estava feito desde o princípio do projeto.

Não estamos falando sobre desenvolvimento de software ou desenvolvimento de telemóveis, cujos requisitos precisam ser constantemente atualizados e seus clientes precisam mudar incessantemente — que significa um ambiente de negócios em constante mudança. No entanto, um projeto de construção se trata de um edifício que precisa de um forte planeamento do início ao fim, com um produto final definido.

Isso não significa que você não pode ter reuniões semanais ou atualizar seu cliente sobre o que está acontecendo. Por isso, temos relatórios diários ou semanais. Mas você não pode usar as metodologias Agile comuns durante um projeto de execução de construção, por exemplo, porque você já tem um projeto definido. No entanto, podemos adotar um modelo Hybrid (em português, Híbrido), mesclando o plan-driven model ou modelo tradicional orientado ao plano (Predictive) e o change-driven model ou modelo orientado à mudança (Agile), desde a fase de iniciação até a fase de encerramento da gestão do projeto de construção, podendo ainda usar a Metodologia Lean, mas isso é assunto para um próximo artigo.

Portanto, um modelo totalmente Agile não vai funcionar muito bem em um projeto de construção porque não é um ambiente em constante mudança. Como também não vai funcionar muito bem em todos os setores, em todas as situações.

Tens dúvidas sobre o assunto ou deseja obter uma boa gestão de projetos de sua construção? Contacte-nos para mais informações.

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Sobre o autor:

Karolline Dutra é Engenheira Civil e Ambiental, Membro da Ordem dos Engenheiros de Portugal, Especialista em Conservação e Reabilitação de Construções, Gestora de Projetos, CEO & Co-Founder do Guedu Atelier.